terça-feira, 7 de agosto de 2012

Ao mestre com carinho - Caetano Veloso - 70 anos.

Não encaro a escrita, o ato de redigir um texto como algo difícil; Encontro até certa facilidade em utilizando um tema desenvolver algumas linhas tecendo comentários e expressando opinião sobre os mais diversos assuntos.
Bem! Mas há sim uma situação na qual isso se torne mais complicado, quando se trata de algo ou alguém que gerou algum tipo de trauma ou de alguma maneira se tornou marcante.
Caetano Veloso. Posso dizer que minha vida musical se deu por meio dele. Tudo começou quando eu tinha cerca de 12 anos e em uma competição de dança do colégio em que eu estudei durante o
ensino fundamental, um grupo de meninas de uma outra instituição fez uma coreografia linda tendo como tema uma bela canção que misteriosa e bela que eu jamais havia escutado.

Cresci em um ambiente muito musical, por mais que meus pais não tivessem nenhum conhecimento teórico ou formação musical, sempre ouviram muita coisa boa que acabei por também gostar e
me interessar. Samba, Disco Music, temas instrumentais... Tudo isso faz parte de minhas lembranças musicais e infância, mas naquele fatídico dia da competição aquela canção realmente acabou por soar como algo diferente e não mais saiu da minha cabeça.

Em tempos aonde não existia a facilidade da internet e tampouco o youtube(que um dia ganhará uma postagem, pois acho que é o que de melhor foi inventado no mundo virtual), havia a dificuldade de descobrir qual era o nome daquela canção, quem era o cantor e o nome do disco em que foi gravada. Tarefa árdua, demorada... Até que alguns dias depois resolvi ligar para o colégio responsável pela performance e perguntei. Eis que descobrir Caetano e sua canção.
Ao chegar em casa corri e perguntei a minha mãe, que como já dito era extremamente musical, se em meio a aquela pilha de discos não havia nada desse até então desconhecido cantor. Para a minha surpresa ouvi um enfático "Eu não gosto de Caetano" que assumo me surpreendeu. A partir daquele momento eu percebi que por maior que fosse a influência de meus pais, já era a hora de eu começar a "musicalmente" caminhar sozinho...

Passou um bom tempo e eu doido para ouvir novamente aquela canção. Minha mãe não me daria o tal disco por saber que seria obrigada a ouvir contra sua vontade Caetano, acho também que de alguma maneira ela deve ter achado que em uma semana tudo aquilo passaria, se enganou, mas eu continuei em busca do tal Caeatano.
Cerca de duas semanas depois, fui até a casa de um amigo para fazer um trabalho de uma matéria que assumo não me recordo. Chegando lá fui super bem recebido pela sua mãe, não só eu mas todos os colegas do grupo. Estavamos lá, papeando, na sala, em frente a uma pilha de disco e para o meu espanto o primeiro disco da pilha era de quem? Advinhe? Caeatno Veloso..."Cores, nomes" era o nome do álbum. Surtei... Abandonei o grupo, meio que sem graça fui até a mãe desse amigo e pedi que por favor me permitisse ouvir aquela vinil, mesmo que rápido pois eu estava em busca de uma canção. A mãe do meu amigo simpática como de costume concordou, vi em seu olhar que talvez estaria se perguntando como seria possível um moleque da minha idade querendo ouvir Caetano e não o "MC Marlboro" que estava estourando com o então novo "Funk Carioca".
Ao colocar o disco na vitrola a minha apreensão aumentou, mas durou pouco, pois a primeira faixa do Lado A era a minha... Queixa era o nome da canção e assumo me emocionei e senti que uma nova fase de minha vida estaria prestes a começar...

"Um amor assim delicado
 Você pega e despreza
 Não devia ter despertado
 Ajoelha e não reza..."

No outro dia voltei a casa desse amigo com uma fita virgem que eu acabará de comprar na loja da esquina, pedi encarecidamente ao meu amigo que gravasse aquele álbum e assim foi feito.
Voltei para casa feliz da vida e passei horas grudado no walkman ouvindo minha fitinha. Inicialmente aquela canção, mas com o passar do tempo todas as outras e todos os álbuns e toda a obra de Caetano passará a fazer parte de minha vida e história...

Hoje sou grato demais a Caetano por sua genialidade.Conheci quase todos os músicos responsáveis pela gravação da maioria de seus álbuns, um em especial(Perinho Santana) se tornou amigo e pude assim saber muito sobre todo o processo de gravação não só daquele álbum, mas também de tantos outros...Graças a aquela canção comecei a dedilhar o violão, passando assim para a guitarra, contrabaixo... E cá estou hoje.

Caeatano pra mim é meio que um "guru", sem exageros.Sua forma de compor, de escrever, toda a sagacidade de em especial na época da ditadura "dizer o que não parece que disse mas disse" em canções cheias de duplo sentidos e figuras de linguagens e transbordando toda a sua genialidade e senso crítico.

Parabéns a Caetano! Parabéns ao mestre pelos seus 70 anos de vida e arte.

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